Estive no Brasil ano passado:
outubro. Eu e minha mala. Levo sempre comigo apetrechos masculinos, como
cortadores de unhas (dos pés e das mãos: são diferentes no tamanho, pois o dos
pés é maior; afinal, os pés ficam mais longe da cabeça que pensa e entre essa e
aqueles (pés) existem obstáculos como a barriga).
Acrescentei a esses apetrechos
uma pequena tesoura para cortar pelos que insistem em crescer no nariz. Se não
fossem incômodos – coçam – seriam fâneros (vai para o Google!) curiosos, pois
nascem subitamente: deito sem e acordo com um ou mais deles (vêm em grupos) me
fazendo cócegas, com o que até poderiam ser considerados divertidos. Mas, creia
em mim alguma vez: não o são.
Essa micro tesoura e os demais
apetrechos levo na mala que despacho pois as suas antecessoras que estavam na
bagagem de mão as quebrei de raiva ao passar pelo R-X no aeroporto: que estejam
descansando em paz em algum lugar. Irritou-me profundamente ver as mesmas serem
consideradas perigosas armas, como se com essas pequeninas eu pudesse espetar a
barriga da aeromoça ou estocar a jugular do comandante; quebrei-as e joguei no
chão, ostensivamente; do alto de meus cabelos brancos eu posso tudo.
Em um momento de delírio após o
embarque e a quebra de mais uma inocente, cheguei a pensar que se minha
preciosa micro tesoura estivesse comigo, e não agora aos pedaços, lacrimosa e
gemendo de dor, atirada em uma sórdida lata de lixo de um vulgar aeroporto, poderia
com ela cortar o bico do seio da aeromoça; desisti do feito ao pensar que
deveria agarrá-la, rasgar a blusa, abrir o soutien e se isso era complicado há
anos atrás, agora me parecia uma missão impossível. Com isso, acabou antes de
começar uma exitosa carreira de terrorista virtual.
De uns tempos para cá acrescentei
ao kit de apetrechos uma lixa, dessas largas, grande, bonita. Revelou-se útil
para dar um acabamento melhor nos restos de unhas que ficavam – pelo obstáculo
“barriga” – principalmente nos dedos dos lados de fora dos pés, os populares
mindinhos e seus adjacentes. Também nos dedos popularmente conhecidos como
“dedão” a lixa se fez útil, ao tentar minorar pontas encravadas.
Pronto. Agora (outubro do ano da
graça de 2014) estou em São Paulo, em um flat. O kit, livre da mala, está no
banheiro. Fiquei 20 dias e nesses toda santa manhã vinha uma pessoa arrumar a
cama.
Um dia precisei da micro tesoura
e não a achei. Em pânico constatei que todo o kit havia desaparecido. Como
esses apetrechos não se movem sozinhos, conclui que alguma pessoa os havia
levado: uma das arrumadeiras, claro, mas qual? E quando? A motivação para o
crime havia, pelas utilidades dos apetrechos; pensei em registrar uma queixa na
recepção mas me senti ridículo. Como explicar que a micro tesoura era
importante? Diria ser um objeto que acompanha os Kwitkos desde a Ucrânia?
Desisti da queixa e comprei
outros apetrechos na farmácia mais próxima. Esses guardei com cuidado, no cofre
do flat. Agora estão aqui comigo e estamos felizes, juntos.
Hoje (março de 2015) Ana Paula
pediu minha mala emprestada para ir ao Brasil (espero que devolva!). Olhei
alguns sacos plásticos que estão dentro dela, antes de lhe entregar: em um
deles estava o kit original.
Agora tenho dois: um novo e outro
que me parece fruto de preconceito. Acho que esse ultimo vou por a venda no
eBay ou no Mercado livre.
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