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Por Ana Paula Kwitko

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A CASA IDEAL

Conheci a Pedagogia Waldorf há cerca de sete anos, em Porto Alegre, no Sul do meu país, quando minha filha Julia tinha apenas dois e frequentava escolinhas assépticas, bilíngues, com agendas contando seu número de cocôs e câmeras que a expunham aos pais inseguros e bobos como eu. Nunca consegui me enquadrar naqueles valores provincianos de "maior cidade pequena do mundo" e sofria muito por não ter nada melhor para oferecer para meu pequeno botão que desabrochava em floreiras adversas. Foi quando uma conhecida, mulher muito inteligente, a Mara, nos chegou com a "novidade". Lembro que ela estava encantada e completamente apaixonada pela descoberta da ciência antroposófica de Rudolf Steiner. Discursava para nós com os olhos brilhantes de euforia e me instigava cada vez mais a me enfiar neste novo universo com uma curiosidade quase juvenil, para não dizer afoita. Dali para a ida sem volta bastou somente confiar na minha intuição de mãe e na minha irmã Lea.
Em leves pinceladas, o que posso dizer, com meu precário conhecimento, é que Steiner, filósofo austríaco do início do século XX, preconizou uma pedagogia que dirige o olhar para o Homem e sua relação com o Universo, calcada pela antroposofia, uma ciência empírica e não religiosa. É uma pedagogia que objetiva o desenvolvimento humano da maneira mais aberta e livre possível, dando condições para que o pensar, o sentir e o agir floreçam de forma equilibrada, sem interferência do meio massificante que hoje nos é imposto. E não é só através do ensino das matérias curriculares tradicionais que se busca atingir estes objetivos, mas também e, principalmente, por meio das atividades artísticas, dos trabalhos práticos e do ritmo das comemorações. Uma educação que busca pelo todo, que não fragmenta o indivíduo em valores religiosos, morais, ou econômicos e que corre em direção de uma sociedade livre, que a compreende e abarca em sua mutabilidade.
Tudo isto para dizer que no trabalho final deste ano letivo da Julia - em sua segunda escola Waldorf (a primeira foi em São Paulo), a proposta foi construir uma casa. “A casa ideal” que cada criança queria viver, ou ter. Levamos uma semana construindo “a nossa casa” que era completamente aberta e muito decorada, tinha um jardim que envolvia toda a construção, uma mesa de jantar gigante, crianças e muitos bichos. 
Qual não foi a surpresa quando ao final, nossa filha, nossa pequena flor que desabrocha neste campo encantado da vida - ao contrário de todos outros colegas quando interrogados sobre a casa dos seus sonhos - segundo sua  própria professora, respondeu: "a minha casa ideal é exatamente a que vivo hoje, não queria mudar nada”.


2 comentários:

  1. Ai meu deus, vou chorar de novo hoje!!!!Assim vocês me matam. Concordo com o Eric, belíssimo texto, belíssima casa e que resposta da Ju; já diz tudo acerca de qualquer dia mais melancólico que a gente possa ter, é só lembrar desta resposta e lembrar: ela está feliz!!!!

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    Respostas
    1. Ana , não sei pq não consigo escrever n seu blog ! Já tentei diversas vezes , não sei o q estou fazendo errado , vou tentar agora dessa forma , vamos ver se consigo !

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