O DESTEMPO

Hoje eu acordei com tempo, ou quem sabe o tempo me acordou. Acontece que despertei feliz, me sentindo amada, tenho as unhas pintadas de vermelho - minhas amigas sabem o que isto significa – preparei o (sagrado e exigido) café matinal distraidamente e ri muito quando me dei conta que meus únicos bichos de estimação são uma cachorra ínfima e pássaros que, de tão livres, me comem todos os frutos do jardim. A vida tem andado lenta, as palavras têm me escapado, cada vez escrevo pior e tenho sonhado em espanhol... Esta pode ser a grande razão da minha manhã feliz: a impossibilidade de me encontrar na linguagem “madre”, ou a real capacidade de me perder no catalão. De qualquer maneira, hoje me revi no labirinto da vida, me expus no espelho mágico do reconhecimento e posso dizer, com pouca certeza, que “tudo vale à pena quando a alma não é pequena”. Que eu possa me perder a cada manhã e que eu possa sempre me reencontrar na relação, no afeto, na ternura. .. Sinto muita saudade dos meus amores, como nunca antes.