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Por Ana Paula Kwitko

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A roupa do Rei


Há 34 anos o Rei absoluto do rock, Elvis Presley, saiu de cena deixando milhares de súditos desolados pelo mundo todo. Era um capricorniano típico que subia as mais altas e vertiginosas montanhas da vida com destemida habilidade. Fez escola no reinado musical e imprimiu um estilo de representar que só os soberanos são capazes. Tinha o gênero canastrão-debochado, era sedutor, romântico, rebelde. Tudo num só. Incorporava seu personagem travestido de figurinos (assinados pelo tarimbado estilista Bill Belew) abusadamente exuberantes. Ele sabia quanto suas roupas falavam e tocavam o público. O fato de articular um figurino mais sensual e abusar de modelos extravagantes foi, em seu caso, não um fator condicionado, mas sim voluntário, para acomodar sua própria emoção sentimentalizada, que correspondia muito bem ao personagem que quis desempenhar. Revendo sua maravilhosa interpretação de “Suspicious minds”, em que usa aquele macacão branco, que ele mesmo batizou de  "jumpsuit", emoldurado de tachas e cinto de franjas, entendi quanto o figurino pode de fato agir como fundamentador de uma subjetividade materializada nele mesmo, em sua capacidade de expressão. Elvis sabia da existência de um imaginário em paralelo ao universo fantástico que vivia, e sabia que seu figurino estava carregado de emoções e representações que se correspondiam e articulavam a possibilidade de espetáculo, dando o tom e a forma que ele pretendia.  Como toda majestade, desvelou a realidade que não era apenas para ser vista, mas para ser sentida através da sua representação. Talvez por isso também Elvis não morreu.

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