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Por Ana Paula Kwitko

domingo, 17 de julho de 2011

Algumas vezes não sei se sofro ou me divirto


Para quem me conhece, ouvir falar de melodrama é redundante, sei bem. Sou intensa em tudo que faço, tudo; para o bem e para o mal. O fato é que já não sei fazer outra coisa a não ser me repetir e hoje, após mais um dia absolutamente dramático e temerosamente engraçado, cá estou eu pensando na importância destas emoções para nossas vidas.
O melodrama é um gênero que possui raízes no teatro, mas que cresceu nas entranhas do espetáculo popular, por volta de 1790. Surgiu estabelecendo uma polarização do bem e do mal, onde há sempre  um opressor e um oprimido, e uma forma peculiar de apresentar as tensões e conflitos sociais. Essa combinação entre prazer visual e sentimentalismo é talvez o principal elemento que garante hegemonia ao melodrama em todas as narrativas desde a teatral até a cinematográfica. Por abordar assuntos morais, apela para os sentimentos e tem um grande potencial para gerenciar conteúdos nacionalistas e promotores de identidade. Trata-se da constatação do óbvio, mas que hoje, a meu ver, está submetido a uma nova leitura onde não se pode ir contra como se fazia anteriormente. O que antes era tido como empobrecedor, sobretudo pelos teóricos da Escola de Frankfurt na crítica à Indústria Cultural, agora revela-se como um conjunto de arquétipos onde está a chave do que o teórico espanhol Josep Català chama de nova complexidade e que necessita ser conceitualizada e que só pode assim ser por meio de seus conteúdos emocionais que entendo como sendo o caminho para alcançar o seu completo aprofundamento. De acordo com as ideias de Català, não podemos chegar a compreender a nova realidade que se reconstrói a todo instante, se não for por meio das emoções, porque na superfície visível desta realidade se encontra instalado o tecido do nosso mundo subjetivo. Situado num contexto de aparente “realismo” e do cotidiano, o  melodrama põe em cena emoções altamente incisivas, fazendo referência a conceitos genuínos do gênero. São estes conceitos que em essência estabelecem as ligações que precisamos para resgatar a distância entre a nossa antiga intimidade e nossa atual subjetividade exteriorizada. Ao contemplarmos, estamos vendo os movimentos do nosso próprio espírito. Por esta razão, a má utilização destas visualidades emocionais nos degrada de imediato, enquanto que a apropriação delas pela verdadeira arte não pode nos conduzir mais que a uma iluminação profunda rumo aos acontecimentos contemporâneos que antes pareciam absolutamente distantes. Entender o excesso melodramático nos possibilita ver outra faceta do debate e nos coloca a todos num cosmos tensionado por infinitas hibridizações. Nossa nudez moral e emocional é tão exposta que acabamos tendo que fazer algo para aliviá-la e é justamente aí que o melodrama pode nos ajudar a repensar nosso “eu” em relação aos acontecimentos desta sociedade tão feroz.
A propósito, vou me atirar nos braços do meu amado e assistir o maravilhoso Limelight, do Chaplin, que é pra não esquecer o que de fato faz sentido para mim. Boa noite!

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