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Por Ana Paula Kwitko

domingo, 26 de junho de 2011

VINHO E POESIA - Briga no beco

Ontem o vinho foi o honesto chileno Santa Helena, Cabernet Sauvignon, e a poesia ficou por conta da incrível Adélia Prado. Diz a história que a poetisa encontrou o marido com uma loira falsa (incrível certas coisas!) o que resultou no delicioso "Briga no Beco" que dedico aqui para meu amigo querido e amado Zé que encantou minha noite com tanta doçura e sensibilidade. Realmente Zé, não há nada mais poético do que um amor em fúria ...

Briga no beco

Encontrei meu marido às três horas da tarde
com uma loura oxidada.
Tomavam guaraná e riam, os desavergonhados.
Ataquei-os por trás com mãos e palavras
que nunca suspeitei conhecer.
Voaram três dentes e gritei, esmurrei-os e gritei,
gritei meu urro, a torrente de impropérios.
Ajuntou gente, escureceu o sol,
a poeira adensou como cortina.
Ele me pegava nos braços, nas pernas, na cintura,
sem me reter, peixe-piranha, bicho pior, fêmea-ofendida,
uivava.
Gritei, gritei, gritei, até a cratera exaurir-se.
Quando não pude mais fiquei rígida,
as mãos na garganta dele, nós dois petrificados,
eu sem tocar o chão. Quando abri os olhos,
as mulheres abriam alas, me tocando, me pedindo graças.
Desde então faço milagres.
Adélia Prado



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