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Por Ana Paula Kwitko

terça-feira, 28 de junho de 2011

Viva a gorda - Por LIZ DIAS



Texto escrito para o teatro de Liz Dias

Eu vivi anos de terapia achando que tinha nascido no corpo errado, ou, na época errada. Que eu só seria feliz se eu virasse, do dia pra noite, uma mulher magra, loira e peituda! Loira é fácil e peituda eu já era. Agora, magra? Tem aquela cirurgia de redução de estômago que a criatura tem que ficar o resto da vida ingerindo suplemento alimentar, isso é loucura! Sabe aquelas pessoas que envelhecem e dizem assim: Eu me sinto jovem por dentro! Com a cara que é um maracujá de gaveta! Pois acreditem, eu também me sinto magra por dentro! E isso vai ao encontro da minha teoria: Eu não consigo emagrecer porque meu inconsciente não se sente gorda, ele nem sequer sabe o que é celulite! Outro dia eu tava de TPM, numa crise de bipolaridade e, no dia do eclipse da lua cheia, perdi o controle: Acabei batendo no moleque da rua que me chamou de gorda! No outro dia, a mãe, furiosa, veio tomar satisfação de mim:
- Porque a senhora bateu no meu filho?
- Ele foi mal-educado, e me chamou de gorda.
- Sabe o que ela falou?
- E a senhora acha que vai emagrecer batendo nele?
Às vezes você chora e ninguém vê as suas lágrimas...Às vezes você se entristece e ninguém percebe o seu abatimento...Às vezes você sorri e ninguém repara na beleza do seu sorriso... Agora... Aumenta 3 quilos na balança pra ver! Quando você se torna gorda você pensa, meu deus, onde foi que eu errei? A primeira coisa é procurar um médico: - Doutor, como eu faço para emagrecer?
– é muito fácil, basta a senhora mover a cabeça da esquerda para direita e da direita para esquerda.
- Quantas vezes,doutor ?
- Todas as vezes que lhe oferecerem comida.
Olha gente, isso foi só uma piada pra descontrair e tal, mas na verdade, é assim!
Engana-se a pessoa que pensa que mulher gorda não pode comer e nem ser comida! A pessoa se sente tão oprimida pela sociedade magra! E no final, sempre leva a culpa: Se sumir um quindim da geladeira do escritório, todos vão dizer que foi a gorda. Gorda
deveria ter sempre um nome bem diferente, assim tipo: Stefani, Caetana, Shayana.. Porque se o nome for popular como Marta, Ana, Carolina, que tem sempre mais de uma em qualquer lugar, pra diferenciar, eles vão dizer: ...a Marta! - Qual Marta? - A gorda! Ou no caso de a pessoa ter certo afeto com a gorda, ela diz carinhosamente assim: ...to falando da Ana! – Que Ana? – A Ana, Gordinha! O que me deixa mais indignada nesse país é que existe um órgão de defesa para cada coisa: Para idosos, adolescentes, negros e índios, diabéticos, cardíacos e homossexuais. Mas, e a gorda? Quem defende essa mulher vítima de tanto preconceito? Na minha opinião deveríamos ter logo uma delegacia da gorda. Obviamente com uma delegada gorda, guardas gordas, cela para tamanhos grandes, não, cela não, ninguém vai prender gordas! Imagina! A gaiola das Gordas! (Risos) Gorda não pode nem ser bonita, porque eles logo dizem: -Puxa ela é tão bonita, pena que é gorda! Ninguém pode ter a cabeça decepada do corpo só porque é gorda! Isso é dantesco! Outro dia tive um pesadelo: Sonhei que todas as pessoas a minha volta eram gordas! Vocês devem estar pensando que eu estava gostando. Errado. No sonho eu era magra. Seca, esquelética. E aí, o que aconteceu? Eu era achacada e humilhada, só porque era magra! Ninguém comia na minha frente com medo de eu me atracar na comida, porque diziam que eu passava fome desde pequenininha! Que eu não tinha corpo e que eu pesava menos que uma lagartixa. Diziam até que se eu pegasse um ônibus muito cheio eu seria morta asfixiada pela população de gordos. Ah! Se todos fossem gordos eu também ia querer ser gorda! Então podemos concluir que a questão não é ser gorda, mas sim querer ser gorda. Ter o modelo como um objetivo a ser alcançado! Transformar aqueles 20Kg a mais em 20 motivos para ser feliz! Por isso, resolvi reverter a situação a meu favor e tirar proveito de cada célula do meu corpo! E, pra espairecer e renovar o ambiente da minha sala mandei colocar um papel de parede tema renascentista: Uma estampa gigante retratando gordas, nuas e cheias de curvas. Tive uma experiência transcendental... Foi a primeira vez que me senti em casa.

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