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Por Ana Paula Kwitko

sábado, 30 de março de 2013

SEXTA FEIRA DA PAIXÃO - Por Airton Kwitko



Estou em São Paulo.
Tenho consciência de que esse meu textículo vai despertar iras e ranger de dentes. Estou tranquilo ao escrever, tal qual um João do Arco (tradução e adaptação ao masculino da Joana), como um monge budista depois do almoço, ou igual ao cordeiro que vai para a cruz, e ainda.....
“Chega, chega!!!!!”, minha leitora vociferou (esperei uns 12 anos para escrever essa palavra). “Aos fatos, fatos, fatos....!!!”.
Atendendo aos gentis pedidos: aos fatos.

FATO 1:
Vera, diarista de nossa amiga, mora em uma casinha perto do futuro estádio do "Curintia". Vai ser desapropriada para que uma avenida que leva ao estádio seja ampliada. A casa dela foi construída com esforço, suor, lágrimas, dedicação e vou ficar por aqui antes de outra vociferação da leitora. Com o valor que a "Prefa" daqui vai “pagar” pela casa, Vera não compra outra igual e nem no mesmo lugar: vai para mais longe. 
Tudo em nome do esporte, diga-se. Afinal, no estádio irá ocorrer a partida de abertura da Copa, e nesse dia os gringos devem ver uma paisagem bonita, a imagem do país, nossa política externa, o...(parei: minha leitora bufou).
Agora, em nome do esporte, diga-se um cacete: em nome da grana, bufunfa, bolada, milho, suborno, e por ai vai... que os caras que praticam esse esporte (ou seus clones passados e futuros) adoram fazer para encher os bolsos. Dali sai o “azeite”.
Para isso existe dinheiro.

FATO 2:
Na Sexta da Paixão fui da Bela Vista para a Liberdade. Gente!!!! Impressionante o que tem de pessoas deitadas pelas calçadas, marquises, vãos, desvios, becos. Sobre papelões ou colchões velhos, até mesmo sobre nada, ali, deitados, dormindo, olhando o coisa nenhuma das pernas que passam ao largo, essas sim sem olhar para baixo, para ver onde andam os irmãos de fé.
Irmãos de fé, pois certamente são ou foram, para ficar só no cristianismo: católicos, protestantes, espíritas, adventistas, rosa-cruzes, ortodoxos, mórmons (retirei a lista do Google).
Cristo morreu na cruz para salvar cristãos, exatamente de que eu não sei. Mas pelo que vi esses não foram salvos.
Talvez seus pecados sejam muito grandes e os salvadores não tenham autonomia para resolver por conta própria, e necessitam requerer o ato de salvação, a ser protocolado em três vias, e até que a resposta chegue, demora. Burocracia, mas necessária para que tudo seja bem feito e documentado. Afinal: tudo em nome da salvação.
Ou então tem muito pecador por ai, e sabe cumé, os salvadores são poucos, não conseguem atender a todos, e ainda em São Paulo é tudo muito difícil de chegar, o transito uma merda, tem o rodízio de carros, não trabalham fora do horário pois a hora extra foi cortada (junto com o café: contenção de despesas, alegam).        
Ou esses insalvos carregam pecados de vidas passadas? Quem sabe são Exus travestidos de pessoas que não querem ser salvos, e deleitam-se com as orgias do inferno, cheias de ninfas devassas? Ou então agitadores profissionais que querem desestabilizar o governo eleito pelo povo, para dirigir o povo? Monarquistas, quem sabe? Comunistas (ainda existe!)? Atores globais fazendo laboratório para a próxima novela das 7?
Chego a pensar que não são cristãos: quem sabe judeus, islamitas, brâmanes, xintoístas, pastafarianos? Para esses ninguém morreu para salvá-los. Só eles morreram perseguidos, mas essa é outra história.

FATO 3:
Não existe fato 3. O que há é um país insano, inconsequente, imbecil e irreal; país do faz-de-conta: finjo que governo, finges que és governado.
Nessa Sexta da Paixão, quem tem e pôde foi para sua casa na praia ou no condomínio fechado, aqui perto, aonde chegou depois de umas 3 horas de estrada congestionada. Tem a volta, mas essa também é outra história.
Quem não tem ou não pode, ficou por aqui mesmo. Alguns foram dormir nas ruas, para “aperciá os movimento”; ao menos não enfrentaram as estradas engarrafadas, não pagaram nenhum pedágio, nada. 
É: nada mesmo! Deve ser essa a explicação para o que eu vi nessa sexta. 




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