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Por Ana Paula Kwitko

terça-feira, 5 de julho de 2011

CINE RETRÔ - Volver de Pedro Amodóvar

Para aquecer estas noites geladas, a melhor pedida é assistir um bom filme embaixo das cobertas. O frio nos ajuda validar a preguiça, acaba com nossa culpa.  E minha sugestão não poderia ser melhor do que Volver.

Em 2006, foi lançado Volver, um filme que deu luz essencialmente a mulheres humildes, valentes e destemidas. Levou o prêmio pelo melhor roteiro e interpretação feminina no festival de Cannes do mesmo ano e indicado ao Oscar de melhor atriz à Penélope Cruz em 2007. Neste trabalho, Almodóvar voltou o olhar para o passado, para sua infância e povoado, remontando sua trajetória de vida com um argumento sobre a morte que teve por moldura as histórias contadas pela sua mãe e irmãs. Volver é um filme que revela muito bem a “segunda fase” do diretor onde apresenta suas pessoalidades como forma de introspecção necessária à sua arte; nele traz novamente o universo feminino pela ampla possibilidade de discurso emocional que gera. O filme é um melodrama que exprime o sentido que o próprio título evoca: a volta ao passado. O feminino com sua força imensurável traduzido pela atmosfera melodramática e kitsch, que aparecem correlacionados com o neorrealismo italiano. Um filme que trata da solidão que se contrapõe à solidariedade; da fragilidade feminina que se contrapõe à força da beleza que encanta. Todo este argumento tem como pano de fundo o culto aos mortos e antepassados. A narrativa significa o retorno de fantasmas antigos que machucam a lembrança e a vida da personagem Raimunda (Penélope Cruz). E por esse prisma que o filme vai abordar temas ácidos: incesto, adultério, homicídio, sem deixar de nos dar esperança ao final, por isso não é um filme pessimista, antes muito pelo contrário. Após a morte do marido, Raimunda consegue refazer sua vida ao lado da filha Paula (Yohana Cobo), abre um restaurante clandestinamente, canta e encanta, mas ainda teme o passado tão presente. Por isso, o reencontro com Irene (Carmem Maura), a mãe morta e que todos julgavam estar enterrada numa pequena cidade da Mancha, torna-se o conflito central do filme, mas ao mesmo tempo é o caminho para sobreviver ao medo do passado, porque mãe e filha possuem segredos muito próximos, um já quase esquecido, e o outro escondido e literalmente congelado no freezer do restaurante. Volver é ainda o retorno de Almodóvar à sua terra natal, La Mancha, recriada com as cores de uma Espanha provinciana e folclórica que nos apaixona e encanta.



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